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Taxi Driver

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Análise Psicanalítica: A Solidão Psicótica e a Construção do Anti-Herói

Martin Scorsese nos apresenta um personagem que simboliza a fragmentação do eu, o isolamento social e a impossibilidade de Travis se inserir no laço simbólico da sociedade. A alienação progressiva do protagonista segue um percurso clássico de dissolução psíquica, evocando conceitos de Freud e Lacan sobre psicose, delírio e pulsão de morte.

A Solidão e a Exclusão do Simbólico

Desde o início do filme, vemos Travis como um sujeito incapaz de estabelecer relações autênticas com os outros. Ele se descreve como alguém que “caiu” na cidade e não pertence a nenhum lugar. Lacan sugere que a psicose ocorre quando há uma foraclusão do Nome-do-Pai, ou seja, quando o sujeito não consegue se inscrever na ordem simbólica, ficando à margem da linguagem e das estruturas sociais.

Travis não entende os códigos sociais, o que se torna evidente em sua tentativa desajeitada de conquistar Betsy. Ele a idealiza como uma figura pura e redentora, mas sua incapacidade de compreender limites e convenções o leva a uma rejeição humilhante, aprofundando seu sentimento de exclusão.

O Delírio como Tentativa de Construção de Sentido

Sem conseguir se inserir no mundo, Travis começa a estruturar um delírio de missão, no qual se vê como um agente da justiça que precisa purificar a cidade. Freud afirma que, na psicose, o delírio surge como uma tentativa do sujeito de restaurar uma realidade colapsada.

Ao justificar sua violência como um ato necessário, Travis cria para si um papel heroico, evitando encarar seu verdadeiro conflito: sua própria impotência e desesperança. Seu desejo de “salvar” Iris é, na verdade, uma forma de ressignificar sua existência.

A Pulsão de Morte e o Ato Violento

O comportamento de Travis ilustra o conceito freudiano de pulsão de morte (Thanatos) – um impulso inconsciente para a destruição, seja do outro, seja de si mesmo. Seu treinamento militar e sua relação fetichista com armas evidenciam essa pulsão latente, que culmina na sequência final de violência extrema.

O massacre que ele comete pode ser visto como um acting out, um ato que busca dar sentido ao seu sofrimento interno. Mas, ao contrário do que se espera, a sociedade o reconhece como um herói – uma ironia cruel que sugere que sua loucura não está tão distante da moralidade distorcida da época.


Conclusão: Um Espelho da Psicose Coletiva

“Taxi Driver” não é apenas o retrato da psicose de um indivíduo, mas uma crítica à alienação e à violência embutida na sociedade. Travis não é um louco isolado – ele é um produto de seu tempo, uma manifestação da solidão, da desilusão e da frieza de uma cidade que o criou.

O filme nos deixa com uma inquietante pergunta: até que ponto a loucura de Travis é uma exceção e não um reflexo do mundo ao seu redor?

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