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Seven: Os Sete Crimes Capitais

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1995127 min

Análise Psicanalítica e de Saúde Mental

John Doe e a Psicopatologia do Fanatismo

O assassino em Se7en encarna um arquétipo clássico do fanático moralista, uma figura que justifica seus atos por uma lógica superior e transcendente. Do ponto de vista psicanalítico, Doe pode ser interpretado como um superego sádico, uma instância da psique que não apenas reprime desejos, mas os pune com extrema violência.

Freud descreve o superego como a parte do psiquismo que internaliza as normas sociais, funcionando como um juiz moral. No caso de Doe, esse superego se hipertrofia e se torna destrutivo, projetando para o mundo externo sua própria luta interna contra o desejo e a corrupção humana. Ao matar, ele não apenas “pune” os pecadores, mas reafirma sua identidade como agente de um princípio superior, um sintoma clássico do delírio psicótico com temas messiânicos.

Somerset e Mills: O Conflito entre Experiência e Impulsividade

Os dois detetives representam forças psíquicas opostas:

  • Somerset (Morgan Freeman) simboliza o princípio da razão e da resignação, alguém que já viu de tudo e aceitou a decadência do mundo. Ele se alinha ao princípio da realidade, que reconhece a violência e o caos, mas não tenta confrontá-los com impulsividade.
  • Mills (Brad Pitt), por outro lado, representa o princípio do desejo e da impulsividade, movido pela ira e pelo desejo de justiça rápida. Ele age com paixão, sem medir as consequências, tornando-se um alvo fácil para a manipulação de Doe.

Do ponto de vista lacaniano, Mills é capturado pelo desejo do outro—no caso, o desejo de John Doe de transformar a investigação em uma narrativa predestinada. O assassino manipula os detetives como peças de um tabuleiro, levando Mills a cumprir exatamente o papel que foi reservado para ele.

A Revelação Final e o Trauma da Ira

O clímax do filme é um dos momentos mais perturbadores da história do cinema. Quando Doe revela que matou a esposa de Mills e enviou sua cabeça em uma caixa, ele cria um dilema psicológico: se Mills ceder à raiva e matá-lo, estará concretizando o último pecado capital—ira—e finalizando o ciclo de violência criado pelo assassino.

Aqui, Mills experimenta um colapso psíquico. O desejo de vingança se choca contra a impotência diante da tragédia. Ele poderia se tornar maior que o jogo de Doe e recusar-se a matar, mas o trauma é insuportável. Sua ação final—atirar em Doe—marca não apenas o cumprimento da “profecia”, mas sua própria destruição simbólica.


Conclusão

Se7en é um estudo profundo sobre a psique humana, o fanatismo e o destino trágico daqueles que tentam confrontar o mal sem reconhecer seu poder destrutivo. O filme nos deixa uma pergunta perturbadora: será que o mal pode ser combatido sem que nos tornemos parte dele?

No fim, Mills se torna a última peça do jogo de Doe, e Somerset, resignado, constata a verdade cruel: “O mundo é um belo lugar e vale a pena lutar por ele… mas eu só concordo com a segunda parte.”

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