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Procurando Nemo
Análise Psicanalítica e de Saúde Mental
Marlin e o Trauma da Perda
Marlin começa o filme como um pai dominado pela ansiedade e pela superproteção, algo que pode ser explicado pelo trauma que sofreu: a perda da esposa e da maior parte de seus filhos em um ataque de predadores. Freud argumenta que eventos traumáticos podem levar à neurose obsessiva, onde o sujeito busca controle excessivo para evitar uma nova perda.
No caso de Marlin, essa obsessão se traduz na hipervigilância sobre Nemo, impedindo-o de explorar o mundo e desenvolver autonomia. Em psicanálise, isso pode ser visto como um bloqueio no processo de separação e individuação, onde o pai não consegue permitir que o filho desenvolva sua própria identidade.
Nemo e o Desejo de Independência
Nemo, por sua vez, representa o desejo de autonomia diante da opressão do pai. Em Lacan, a criança precisa passar pelo “Nome-do-Pai”, que é a lei que permite que ela se diferencie da figura materna (ou, neste caso, paterna). Ao desafiar Marlin e nadar até o barco dos pescadores, Nemo está tentando afirmar sua própria existência.
Sua pequena nadadeira, vista inicialmente como uma limitação, pode ser interpretada como uma metáfora para o sentimento de inadequação que muitas crianças enfrentam. No entanto, sua jornada no aquário mostra que, com esforço e confiança, ele pode superar desafios, reafirmando sua capacidade de agir no mundo.
Dory e a Memória como Função do Desejo
Dory, com sua amnesia anterógrada, é um dos personagens mais fascinantes sob a ótica da psicanálise. Diferente de Marlin, que vive no passado e teme o futuro, Dory existe apenas no presente, sem a carga da culpa ou do trauma.
Lacan descreve o sujeito como alguém sempre dividido entre o simbólico (a linguagem e as regras sociais), o imaginário (a identidade e a autoimagem) e o real (o inominável, o trauma). Dory parece funcionar fora dessa estrutura convencional, pois sua falta de memória a impede de construir uma narrativa coerente de si mesma. Isso, paradoxalmente, a torna mais livre e otimista—ela não se prende às amarras da culpa ou do medo.
Em muitos momentos, Dory funciona como uma mediadora do inconsciente para Marlin. Sua famosa frase, “Continue a nadar”, pode ser interpretada como um conselho psicanalítico: a vida não é sobre controlar tudo, mas sobre seguir em frente, mesmo sem ter todas as respostas.
Conclusão
Procurando Nemo não é apenas um filme infantil sobre um peixe perdido, mas uma profunda metáfora sobre o luto, a separação e o amadurecimento emocional. Marlin aprende a confiar no filho e a superar seu medo de perder, enquanto Nemo descobre sua própria força.
Dory, por sua vez, nos lembra que, às vezes, esquecer o passado e simplesmente seguir em frente pode ser a chave para uma vida mais leve.
A grande lição psicanalítica do filme é: o amor não deve ser uma prisão, mas um impulso para permitir que o outro cresça e encontre seu próprio caminho.