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Precisamos Falar Sobre o Kevin
Análise Psicanalítica e de Saúde Mental
O Mal é Inato ou Construído?
Desde os primeiros anos de Kevin, o filme nos faz questionar se ele nasceu com tendências psicopáticas ou se foi moldado por sua relação com Eva. Do ponto de vista psicanalítico, podemos analisar Kevin como um caso de identidade fragmentada, no qual a falta de um vínculo afetivo sólido contribui para seu comportamento antissocial.
Freud sugere que os primeiros anos de vida são fundamentais para a estruturação do psiquismo. A ausência de uma relação saudável com a mãe pode gerar fixações emocionais e dificuldades na internalização da lei e da moralidade. Kevin parece incapaz de sentir empatia, e sua frieza emocional pode ser um reflexo da ambivalência que sentiu desde o nascimento—sua mãe nunca conseguiu verdadeiramente amá-lo.
A Mãe como Espelho e a Rejeição Primária
Eva nunca quis ser mãe, e Kevin parece perceber isso desde cedo. Na teoria lacaniana, a criança se constrói a partir do olhar do outro, especialmente da mãe. Se esse olhar transmite rejeição, a criança pode desenvolver uma identidade marcada pelo desamparo e pela hostilidade.
Kevin responde à frieza da mãe com desafio e manipulação, tentando reafirmar seu poder e inverter essa rejeição. Sua maldade pode ser vista como uma forma extrema de exigir atenção e confirmar sua existência no mundo. A relação entre eles é um ciclo contínuo de provocação e repulsa, como se Kevin estivesse punindo Eva por não amá-lo.
A Construção do Psicopata
Kevin exibe traços de transtorno de personalidade antissocial, incluindo a falta de empatia, o prazer em manipular e a ausência de remorso. Segundo a psicanálise, a psicopatia pode estar associada a uma falha na constituição do superego, a instância moral que regula os impulsos do indivíduo. Isso pode ocorrer tanto por negligência emocional quanto por fatores biológicos.
É interessante notar que Kevin só age de maneira afetuosa perto do pai (John C. Reilly), que não percebe sua verdadeira natureza. Essa duplicidade reforça sua capacidade de manipulação e o coloca como um sujeito que desafia qualquer categorização moral simples.
A Culpa Materna e o Luto pelo Filho Vivo
Após o massacre, Eva vive atormentada pela culpa e pelo julgamento da sociedade. A psicanálise vê a culpa como um mecanismo psíquico poderoso que pode aprisionar um indivíduo no passado. Ela sente que falhou como mãe e, por isso, aceita o ódio da comunidade como um tipo de punição inconsciente.
No fim, Eva visita Kevin na prisão e pergunta: “Por quê?”. Pela primeira vez, ele hesita. Isso sugere que nem mesmo ele tem uma resposta clara para seus atos, reforçando a complexidade de sua psicologia.
Conclusão
Precisamos Falar Sobre o Kevin é uma obra-prima do terror psicológico e da psicanálise, explorando a maternidade, a culpa e a formação da identidade. O filme nos força a refletir: o mal nasce ou é criado? Até que ponto a rejeição pode moldar uma personalidade destrutiva?
No final, Eva permanece com uma pergunta sem resposta—e o espectador também.