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Parasita

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2019133 min

Análise Psicanalítica e Saúde Mental em Parasita

Parasita é um filme que vai além da crítica social e econômica; ele é um estudo profundo sobre a psique humana, as relações de poder e os mecanismos inconscientes que regem as divisões de classe. A luta entre os Kim e os Park pode ser interpretada como um reflexo dos conflitos estruturais entre o desejo, a repressão e a ilusão de mobilidade social.

O Espaço Físico como Representação do Inconsciente

O filme utiliza a arquitetura da casa dos Park como uma metáfora psicanalítica da estrutura psíquica:

  • O porão da família Kim: Representa o inconsciente reprimido, o espaço da miséria e da exclusão social que a sociedade prefere ignorar.
  • A casa dos Park: Funciona como o ego ideal, um espaço de luxo e controle onde tudo parece estar em harmonia.
  • O bunker secreto: Simboliza os traumas reprimidos que insistem em retornar. Assim como o personagem Geun-sae (o antigo morador do porão) vive escondido, os aspectos mais sombrios da sociedade – pobreza, violência e desigualdade – são varridos para debaixo do tapete, mas nunca desaparecem completamente.

Essa dinâmica espacial reflete um conceito central de Freud: o retorno do reprimido. Tudo aquilo que é negado e excluído eventualmente ressurge de forma destrutiva. A reviravolta do filme acontece justamente quando os segredos da casa vêm à tona, mostrando que a falsa harmonia entre as classes era apenas uma ilusão frágil.

A Família Kim e a Pulsão de Sobrevivência

A família Kim age movida pela necessidade, mas também por um desejo inconsciente de pertencer ao mundo dos ricos. Freud descreve a pulsão de vida (Eros) como aquilo que nos move para o prazer e a sobrevivência, mas essa pulsão pode se tornar destrutiva quando se choca com a realidade. Os Kim acreditam que podem ascender socialmente por meio da fraude, mas seu plano se baseia na fantasia de que podem ocupar o espaço dos Park sem que o sistema reaja contra eles.

Lacan descreve essa ilusão como o desejo do Outro – os Kim não querem apenas dinheiro, mas o reconhecimento e a posição social que ele representa. No entanto, esse desejo nunca pode ser totalmente satisfeito, pois a estrutura social os mantém presos em sua posição.

A Violência como Expressão do Recalcado

A cena final do filme, marcada pela explosão de violência na festa dos Park, simboliza a ruptura total da máscara de cordialidade entre as classes. Ki-taek (o pai da família Kim) assassina o Sr. Park em um ato impulsivo, um momento que pode ser interpretado como a manifestação da pulsão de morte (Thanatos).

Esse assassinato não é apenas um crime, mas um gesto simbólico: Ki-taek percebe que, para os ricos, os pobres são descartáveis. O desprezo sutil do Sr. Park pelo cheiro de Ki-taek é o gatilho final, pois expõe a barreira intransponível entre os dois mundos. Esse cheiro, aliás, funciona como uma metáfora do inconsciente – uma marca que não pode ser apagada, não importa o quanto os Kim tentem se adaptar.

O Final e a Ilusão da Esperança

No epílogo, Ki-woo fantasia sobre um plano para comprar a casa dos Park e resgatar seu pai. No entanto, essa cena é seguida por um corte abrupto para a realidade, onde ele ainda está no porão, preso no mesmo ciclo de miséria. Isso reforça a crítica do filme à falsa promessa de ascensão social e ao caráter ilusório do sonho capitalista.


Conclusão

Parasita é uma obra-prima que combina crítica social com uma profunda análise da psique humana. Ele mostra como os mecanismos de repressão e exclusão não apenas estruturam a sociedade, mas também moldam a subjetividade dos indivíduos. No final, ninguém escapa do jogo de parasitismo – ricos e pobres são prisioneiros de um sistema que sustenta sua própria violência através da ilusão de mobilidade e pertencimento.

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