Análise Psicanalítica e Saúde Mental em O Abutre
Lou Bloom é um personagem que pode ser interpretado como um sociopata funcional, alguém desprovido de empatia e capaz de manipular tudo e todos para atingir seus objetivos. Desde os primeiros momentos do filme, sua ausência de afetividade é evidente: ele repete frases motivacionais de autoajuda, mas sem compreender seu verdadeiro significado, sugerindo uma estrutura psíquica marcada pela psicopatia ou um transtorno de personalidade antissocial.
Freud sugere que o sujeito neurótico sofre porque seu superego impõe barreiras morais e de culpa. Lou, no entanto, parece operar sob um superego distorcido ou mesmo inexistente. Ele não sente culpa ou remorso; pelo contrário, enxerga a realidade como um jogo de oportunidades, no qual vence quem se adapta e manipula melhor. Ele representa o gozo perverso descrito por Lacan, pois sua satisfação não vem apenas do sucesso profissional, mas do prazer em ultrapassar limites éticos e transformar a dor alheia em espetáculo.
Sua relação com Nina (Rene Russo), a editora do telejornal que compra seus vídeos, também revela uma dinâmica perversa. Ele percebe sua vulnerabilidade – o medo de perder o emprego devido à baixa audiência – e a chantageia emocional e profissionalmente. Esse jogo de poder demonstra como Lou se alimenta da fragilidade do outro, algo típico de sujeitos com traços narcisistas extremos ou psicopáticos.
O filme também critica a sociedade contemporânea e sua relação com a violência. Lou não é apenas um produto de sua psicopatia; ele é o reflexo de um sistema midiático que recompensa o espetáculo da tragédia. O público deseja ver o horror, e a mídia se aproveita disso, transformando o sofrimento real em entretenimento. Aqui, a psicanálise nos lembra do conceito de pulsão de morte, descrito por Freud, que nos faz, inconscientemente, buscar o perigo e a destruição.
Em O Abutre, o verdadeiro horror não está apenas em Lou, mas na estrutura social que permite que ele prospere. Ele não é um monstro isolado, mas um sintoma de um mundo onde a ética é descartável e o choque visual vale mais do que a verdade. O filme, assim, não apenas retrata a ascensão de um sociopata, mas expõe a própria patologia de nossa sociedade.