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Melhor é Impossível
Análise Psicanalítica e da Saúde Mental
Melhor é Impossível é um estudo fascinante sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), os mecanismos de defesa da psique e a complexidade dos vínculos humanos. O filme mostra como o comportamento misantrópico de Melvin esconde uma profunda vulnerabilidade e medo da intimidade.
1. O TOC Como Tentativa de Controle Sobre o Caos Interno
Melvin apresenta sintomas clássicos de TOC: rituais repetitivos (como lavar as mãos com sabonetes novos e evitar pisar em linhas na calçada), obsessões por higiene e padrões rígidos de comportamento. Freud via a neurose obsessiva como um mecanismo de defesa contra ansiedades inconscientes.
No caso de Melvin, seu TOC parece ser uma tentativa de criar ordem em um mundo que ele não consegue controlar emocionalmente. Ele lida mal com mudanças, evita relações interpessoais e se protege por meio da hostilidade. Seus rituais compulsivos funcionam como uma barreira contra a imprevisibilidade da vida e dos sentimentos.
2. A Misantropia Como Mecanismo de Defesa
Melvin trata as pessoas com grosseria, mas sua atitude parece ser um escudo contra a possibilidade de rejeição e de se envolver emocionalmente. Sua tendência a insultar os outros, especialmente aqueles que representam diferenças que ele não compreende (como Simon, por ser gay), pode ser interpretada como um mecanismo de defesa projetivo – ele projeta nos outros seus próprios medos e inseguranças.
Sua relação com Carol revela esse conflito. Ele deseja estar próximo dela, mas não sabe como expressar afeto sem recorrer à sua habitual brutalidade verbal. Quando ele finalmente faz um esforço genuíno para mudar, vemos que sua misantropia não é inata, mas uma resposta defensiva.
3. O Cachorro Como Facilitador da Empatia
Um dos momentos mais simbólicos do filme é quando Melvin se vê obrigado a cuidar do cachorro de Simon. O animal representa um desafio para sua rigidez, pois não segue regras e exige cuidado espontâneo.
Aos poucos, Melvin desenvolve afeto pelo cachorro, o que marca sua primeira abertura emocional real. Cuidar do animal é um passo fundamental para que ele aprenda a se importar com os outros – um processo que depois se estenderá a Simon e Carol.
4. O Amor Como Catalisador da Transformação
O romance entre Melvin e Carol não segue a fórmula tradicional de histórias de amor. Carol não tenta “consertá-lo”, mas estabelece limites e exige respeito. Melvin, por sua vez, luta contra seus impulsos defensivos para demonstrar seus sentimentos.
O título original do filme (As Good as It Gets) sugere que, apesar de seus esforços, Melvin nunca será perfeito – mas ele pode ser melhor do que antes. Esse é um conceito essencial na psicoterapia: a mudança não precisa ser total para ser significativa.
Conclusão: A Imperfeição da Cura
Melhor é Impossível mostra que ninguém muda completamente da noite para o dia, mas pequenas transformações já são valiosas. Melvin nunca deixa de ser excêntrico e difícil, mas aprende a se conectar com os outros de uma maneira mais genuína.
O filme nos lembra que, apesar de nossos traumas e defesas, o afeto e as relações humanas ainda são os melhores caminhos para a cura – mesmo que nunca alcancemos a perfeição. Afinal, talvez “melhor” seja apenas o suficiente.