🔍 Análise Psicanalítica
O princípio do prazer e a pulsão de morte
Alex DeLarge personifica a manifestação descontrolada do princípio do prazer freudiano, no qual o sujeito busca a satisfação imediata de seus desejos sem considerar a ética ou as consequências. Ele vive impulsionado por pulsões de agressividade e sexualidade em seu estado mais primitivo, um exemplo claro do que Freud chamou de pulsão de morte (Thanatos), a tendência destrutiva que leva os indivíduos à repetição do sofrimento e da violência.
O Superego Perverso
Enquanto o superego, segundo Freud, deveria representar a internalização das regras morais e sociais, no caso de Alex, ele parece operar de maneira perversa. Seu prazer não está apenas na transgressão, mas na crueldade e dominação. Esse comportamento sugere uma identificação com figuras autoritárias e sádicas, que o fazem repetir atos violentos como um meio de reafirmação de poder.
O Experimento Ludovico e o Condicionamento Behaviorista
A técnica usada para “reformar” Alex baseia-se no condicionamento pavloviano, uma abordagem behaviorista que ignora a complexidade psíquica do indivíduo. O método Ludovico elimina a escolha moral do protagonista, tornando-o incapaz de reagir com violência mesmo quando necessário. Do ponto de vista psicanalítico, isso representa um recalque forçado da pulsão, o que não significa uma verdadeira transformação subjetiva. A ausência de elaboração psíquica faz com que o tratamento seja meramente superficial, transformando Alex em um ser passivo e impotente diante do mundo.
A repressão e o retorno do recalcado
Após o tratamento, Alex se torna uma vítima da sociedade, sendo explorado e humilhado por aqueles que antes temia. Isso representa o retorno do recalcado: a violência que antes ele exercia retorna para ele de maneira simbólica e real. Como Freud destacou, o que é forçadamente reprimido na psique não desaparece, mas ressurge de formas distorcidas e muitas vezes mais destrutivas.
Livre-arbítrio e a construção da identidade
O filme questiona: é melhor um homem ter a liberdade de escolher o mal ou ser forçado a ser “bom”? O processo de reabilitação de Alex o priva de sua própria subjetividade, demonstrando que a verdadeira mudança não pode ser imposta de fora para dentro. No final, quando Alex parece recuperar sua capacidade de escolha, Kubrick nos deixa uma reflexão inquietante: a violência e o desejo de dominação fazem parte inerente da natureza humana?
Conclusão
Laranja Mecânica é um estudo profundo sobre o conflito entre pulsões primitivas e repressão social. O filme nos mostra que a tentativa de eliminar a agressividade humana por meios artificiais pode ser tão desumanizadora quanto a própria violência que se pretende erradicar. No fim, Alex não se torna um ser moralmente superior—ele apenas passa por diferentes formas de controle, seja pelo próprio desejo, pelo Estado ou pela sociedade.