This content is for members only.
Join Now

Como Se Fosse a Primeira Vez

1 Views
0
200499 min

Análise Psicanalítica e da Saúde Mental

Apesar de sua leveza e humor, “Como Se Fosse a Primeira Vez” aborda temas profundos sobre memória, identidade, trauma e repetição. A psicanálise e a neurociência mostram que nossa memória não apenas armazena informações, mas também constrói nossa identidade. No caso de Lucy, sua condição a impede de avançar no tempo, mantendo-a presa em um único dia do passado.

🔹 1. A Amnésia Como Mecanismo de Recalque

Na psicanálise freudiana, a memória é um dos pilares da constituição do sujeito. Lucy sofre de amnésia anterógrada, uma condição real que impede a consolidação de novas memórias. Entretanto, no filme, essa amnésia pode ser interpretada simbolicamente como um mecanismo de recalque extremo, em que sua mente se recusa a processar eventos posteriores ao acidente que causou sua lesão cerebral.

Freud descreveu o recalque como um processo inconsciente no qual lembranças traumáticas são reprimidas para evitar sofrimento. No caso de Lucy, o trauma da perda de sua memória impede sua psique de seguir adiante – ela vive eternamente no dia anterior ao acidente, como se sua mente se recusasse a aceitar a passagem do tempo.

🔹 2. A Identidade e a Construção do “Eu”

A memória desempenha um papel essencial na construção da identidade. Lucy não consegue formar novas lembranças, o que levanta uma questão essencial: se não podemos lembrar do nosso passado recente, continuamos sendo a mesma pessoa?

A cada novo dia, Lucy reconstrói sua identidade com base nas informações que recebe. Henry, ao tentar fazê-la se apaixonar diariamente, age como um “guardião” da continuidade dela, mas isso levanta um dilema ético: até que ponto devemos interferir na percepção de realidade de alguém que não pode lembrar?

🔹 3. A Repetição Como Tentativa de Superação do Trauma

Freud descreveu o conceito de “compulsão à repetição”, no qual indivíduos revivem padrões inconscientes na tentativa de resolver algo não elaborado. Lucy é forçada a reviver o mesmo dia repetidamente, como se sua mente estivesse aprisionada em um ciclo do qual não pode escapar.

Henry, por outro lado, também entra em um ciclo de repetição – ele escolhe reconquistá-la todos os dias, recriando a experiência do amor constantemente. Essa repetição, no entanto, é o oposto da compulsão neurótica: enquanto Lucy está presa à estagnação, Henry representa a possibilidade de movimento, crescimento e renovação.

🔹 4. O Amor Como Elo Entre Memória e Continuidade

O filme sugere que o amor pode transcender a memória, pois Henry não desiste de Lucy, mesmo sabendo que ela nunca se lembrará dos momentos compartilhados. No entanto, ao invés de simplesmente aceitar sua condição, ele busca estratégias para ajudá-la a criar um senso de continuidade, como os vídeos que mostram sua vida e os acontecimentos diários.

Isso reflete um princípio psicanalítico importante: mesmo quando a memória falha, as emoções permanecem. Lucy pode não se lembrar conscientemente de Henry, mas sua sensação de segurança e carinho se manifesta de forma inconsciente, o que explica por que ela sempre se sente atraída por ele, mesmo sem recordações.


Conclusão: Memória, Tempo e a Escolha de Amar

“Como Se Fosse a Primeira Vez” pode ser visto como uma metáfora sobre a importância da memória na construção da identidade, mas também como um lembrete de que o amor verdadeiro exige esforço e renovação constante.

O filme nos faz refletir: será que todos nós, de certa forma, não vivemos repetições diárias? A rotina e os relacionamentos exigem que escolhemos amar e reafirmemos nossos sentimentos a cada dia. Lucy e Henry apenas simbolizam isso de maneira extrema.

A pergunta que o filme nos deixa é: se precisássemos conquistar a pessoa que amamos todos os dias, estaríamos dispostos a fazer isso? 💙

Share

Filmes
Tv Shows
Vídeos
Pesquisar