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Cisne Negro

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2010109 min

Análise Psicanalítica e da Saúde Mental

“Cisne Negro” é um filme que explora os limites da psique humana, abordando temas como transtorno dissociativo, repressão, pulsões freudianas e a luta entre o desejo e a moralidade. Nina representa o arquétipo da jovem reprimida, que, ao buscar a perfeição, entra em conflito com seu lado instintivo, levando ao colapso mental.

🔹 1. O Conflito Entre Ego, Id e Superego

Freud propôs que nossa psique é dividida em três instâncias:

  • Ego → A parte racional, que busca equilíbrio entre impulsos e regras sociais.
  • Id → O instinto, os desejos inconscientes e as pulsões.
  • Superego → A moral, as regras internalizadas, muitas vezes representadas pelos pais.

Nina é dominada pelo superego, vivendo sob o controle rígido da mãe e da disciplina do balé. Sua sexualidade e impulsos são reprimidos, e seu id (seu lado mais instintivo) não encontra espaço para se expressar.

Quando recebe o papel do Cisne Negro, ela precisa acessar essa parte selvagem e sensual de si mesma – mas, em vez de integrar esses aspectos, ela os vivencia de maneira fragmentada, como se fossem um “outro” dentro dela.

🔹 2. O Duplo: A Sombra Jungiana e a Dissociação

Ao longo do filme, Nina começa a ver seu próprio reflexo agindo de maneira independente, além de alucinações em que seu corpo se transforma. Isso remete ao conceito junguiano da “sombra”, que representa os aspectos reprimidos da psique que, quando não integrados, retornam de forma destrutiva.

Lily (Mila Kunis) funciona como o duplo de Nina, uma projeção daquilo que ela deseja ser: livre, sensual e espontânea. No entanto, em vez de aceitar e integrar essa energia, Nina a vivencia como uma ameaça, levando à paranoia e à fragmentação de sua identidade.

Esse processo lembra quadros de transtorno dissociativo de identidade, nos quais o indivíduo, incapaz de lidar com impulsos reprimidos, cria versões fragmentadas de si mesmo.

🔹 3. A Relação Simbiótica e Castradora Com a Mãe

A mãe de Nina é uma figura central na construção de sua neurose. Ex-bailarina frustrada, ela projeta seus desejos na filha, controlando cada aspecto de sua vida.

Essa relação pode ser analisada a partir do conceito de “mãe devoradora”, um arquétipo junguiano e um tema frequente na psicanálise. Em vez de permitir que Nina desenvolva uma identidade própria, a mãe a mantém infantilizada e submissa, impedindo que ela explore sua sexualidade e individualidade.

O quarto de Nina, repleto de bichos de pelúcia, é um símbolo claro dessa imaturidade forçada. Sua “pureza” não é natural, mas sim um estado imposto e mantido artificialmente.

🔹 4. A Busca Pela Perfeição e o Colapso Psíquico

A obsessão de Nina em ser perfeita reflete um transtorno obsessivo-compulsivo, amplificado pela exigência extrema do balé. No entanto, essa perfeição é inatingível, pois exige a fusão de opostos: ela precisa ser ao mesmo tempo Cisne Branco e Cisne Negro, inocente e sedutora, rígida e espontânea.

Esse esforço insustentável leva a um estado de psicose, no qual a linha entre realidade e alucinação se dissolve completamente.

No final, quando Nina finalmente encarna o Cisne Negro, vemos a consumação de sua jornada – mas a um preço fatal. A frase final, “Eu fui perfeita”, revela que ela atingiu seu objetivo, mas a um custo irreversível: a destruição de sua própria identidade.


Conclusão: A Perfeição Como Morte Psíquica

“Cisne Negro” é uma obra-prima sobre os perigos da repressão, do perfeccionismo e da luta interna entre instinto e moralidade. Do ponto de vista psicanalítico, é um estudo sobre como a negação do desejo pode levar à fragmentação do eu e, em última instância, à autodestruição.

O filme nos deixa com uma pergunta inquietante: vale a pena buscar a perfeição, se isso significa perder a si mesmo no processo?

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