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Cartesius – Rene Descartes

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Análise Psicanalítica e de Saúde Mental

O Cogito e a Construção do Sujeito

Na perspectiva psicanalítica, a busca de Descartes pela certeza absoluta pode ser vista como um processo de constituição do eu. Freud argumenta que a identidade se forma através de uma série de identificações e conflitos internos. Já Lacan propõe que o sujeito é estruturado pela linguagem e pelo olhar do Outro.

O “Cogito, ergo sum” pode ser lido como uma tentativa de fundar um eu autônomo e absoluto, sem a interferência do desejo ou da instabilidade do inconsciente. No entanto, essa busca cartesiana esbarra na noção lacaniana de que o sujeito nunca se basta a si mesmo, pois está sempre mediado pelo desejo e pelo simbólico.

A psicanálise sugere que a certeza absoluta que Descartes tanto busca é ilusória. O inconsciente freudiano nos mostra que há sempre um saber oculto, reprimido, que escapa à consciência. Assim, poderíamos perguntar: será que Descartes realmente se encontra ao pensar, ou estaria apenas tentando afastar a angústia do desconhecido?

O Racionalismo como Defesa Contra a Angústia

Do ponto de vista psicológico, a obsessão de Descartes pela razão pode ser interpretada como um mecanismo de defesa contra a angústia existencial. Ao rejeitar tudo o que é duvidoso e instável, ele tenta criar uma estrutura de pensamento que elimine a incerteza. Esse tipo de pensamento rígido pode ser associado a traços obsessivos, onde a necessidade de controle e certeza se sobrepõe à aceitação do desconhecido.

Freud identificou que indivíduos com traços obsessivos têm dificuldade em lidar com a dúvida e tentam organizar o mundo de forma lógica e previsível. No caso de Descartes, sua filosofia pode ser vista como um esforço para construir um mundo sem lacunas, onde tudo pode ser compreendido pela razão. Mas, como a psicanálise nos ensina, o desejo e o inconsciente sempre escapam ao controle racional.

O Conflito com a Igreja e a Autoridade Paterna

O embate entre Descartes e a Igreja pode ser analisado como uma metáfora do conflito edipiano. A Igreja, como instituição que regula o saber e a moralidade, assume a posição do pai simbólico, aquele que impõe limites e proíbe certas verdades. Ao desafiar essa autoridade e buscar uma nova forma de conhecimento, Descartes se coloca na posição de um filho rebelde, que precisa romper com a tradição para afirmar sua própria identidade.

No entanto, essa ruptura não é simples. O filme mostra que Descartes, mesmo sendo um inovador, sente a pressão do contexto histórico e as ameaças de perseguição. Isso reflete a ambivalência psíquica de todo sujeito em relação à autoridade: ao mesmo tempo que queremos superá-la, também tememos as consequências desse rompimento.


Conclusão

Cartesius não é apenas um filme sobre filosofia, mas um estudo sobre a psique de um homem obcecado pela razão como forma de lidar com a incerteza do mundo. Sob a ótica psicanalítica, a jornada de Descartes revela a tentativa humana de encontrar um ponto fixo em meio ao caos da existência, mesmo que esse ponto seja uma ilusão.

No fim, a pergunta que fica é: podemos realmente existir apenas pelo pensamento, ou somos inevitavelmente atravessados pelo desejo, pelo inconsciente e pelo outro?

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