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A Chegada
Análise Psicanalítica e Reflexões sobre Saúde Mental
A Chegada não é apenas um filme sobre contato extraterrestre, mas uma jornada sobre linguagem, inconsciente e tempo, explorando temas profundamente conectados à psicanálise e à construção da identidade.
A Linguagem como Estrutura do Inconsciente
A teoria de que a linguagem molda a percepção do mundo ressoa com conceitos lacanianos, especialmente a ideia de que o inconsciente está estruturado como uma linguagem. À medida que Louise aprende a escrita circular dos heptapodes – que não segue uma linearidade temporal –, sua mente também se reconfigura, permitindo que ela experimente o tempo de maneira não sequencial. Isso remete ao conceito freudiano da atemporalidade do inconsciente, onde passado, presente e futuro coexistem, influenciando nossas escolhas e desejos de forma inconsciente.
O Trauma e a Aceitação do Destino
Desde o início do filme, o espectador é levado a acreditar que Louise está lidando com o luto pela perda de sua filha no passado. No entanto, à medida que a narrativa se desenrola, percebemos que esses eventos ainda não aconteceram. Esse deslocamento temporal reflete a maneira como o trauma pode se manifestar na psique: experiências dolorosas, mesmo quando futuras, já se fazem sentir no presente por meio do inconsciente. Freud descreve algo semelhante na compulsão à repetição, onde o sujeito revive, inconscientemente, dores futuras como se fossem memórias, preparando-se para a inevitável experiência da perda.
A Escolha de Amar Mesmo Diante da Dor
O maior dilema de Louise não é apenas compreender os alienígenas, mas decidir se viverá plenamente sua história, sabendo de antemão que enfrentará uma perda irreparável. Esse é um ponto de extrema relevância psicanalítica: a aceitação da falta e da finitude como partes essenciais da experiência humana. Segundo Lacan, o desejo só existe porque há uma falta, e Louise, ao escolher viver seu amor e sua maternidade, mesmo sabendo que terminarão em sofrimento, faz um movimento que lembra a sublimação – a transformação do inevitável em algo significativo.
Conclusão
A Chegada propõe uma reflexão profunda sobre como a linguagem molda nossa realidade e como o inconsciente desafia a linearidade do tempo. Louise Banks nos ensina que, mesmo diante da dor e da certeza da perda, podemos escolher viver plenamente, acolhendo o destino sem nos rendermos ao medo. Esse dilema, tão essencialmente humano, torna o filme uma experiência psicanalítica poderosa, repleta de ressonâncias emocionais e filosóficas.