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Psicose

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Análise Psicanalítica e de Saúde Mental

O Complexo de Édipo e a Simbiose Materna

Norman Bates é um caso clássico de um complexo de Édipo não resolvido, no qual a ligação com a mãe não apenas persiste na vida adulta, mas se torna destrutiva. Freud teorizou que a criança, para amadurecer, precisa se separar simbolicamente da figura materna, internalizando a lei paterna e assumindo sua própria identidade. No caso de Norman, essa separação nunca ocorreu.

Após matar a mãe e seu amante em um surto de ciúme, Norman reprime esse ato e cria uma identidade alternativa, na qual a “Mãe” ainda vive dentro dele. Isso se conecta com o conceito freudiano do retorno do reprimido—ou seja, tudo o que não pode ser aceito pela consciência retorna de forma distorcida e sintomática.

A relação de Norman com sua mãe é simbiótica e incestuosa no nível inconsciente. Ele não pode existir sem ela, e quando ela morre, ele a incorpora, fundindo sua identidade com a dela. Esse fenômeno está ligado ao conceito de psicose esquizofrênica, onde o limite entre o eu e o outro se dissolve.

A Dissociação e a Divisão do Eu

Lacan propôs que o sujeito é estruturado na relação com o Outro e que a identidade é um jogo entre o eu imaginário, o eu simbólico e o real. Norman Bates exemplifica uma falha nesse processo: ele não consegue sustentar um eu coerente, oscilando entre sua identidade real e a identidade internalizada da mãe.

Essa divisão extrema pode ser vista como um caso severo de transtorno dissociativo de identidade (TDI), um mecanismo de defesa originado de um trauma severo. Norman não suporta a culpa e a perda, então sua psique se fragmenta, criando a “Mãe” como uma entidade dominante.

O Olhar e o Desejo Voyeurístico

Uma das cenas mais emblemáticas do filme é quando Norman observa Marion através de um buraco na parede. O voyeurismo aqui é mais do que um impulso sexual: é a manifestação de um desejo reprimido e um indício de sua identidade fragmentada.

Lacan fala do “estádio do espelho”, o momento em que a criança se reconhece no reflexo e forma uma identidade. Norman, no entanto, nunca teve essa consolidação do eu; ele só pode se enxergar através do olhar da mãe. Ele não apenas deseja Marion, mas também a teme, pois sua parte materna internalizada proíbe qualquer impulso sexual. O assassinato dela no chuveiro pode ser lido como uma castração simbólica, eliminando o desejo proibido.

O Final e a Identificação Total com a Mãe

Na cena final, vemos Norman completamente tomado pela personalidade materna. Ele sorri para a câmera enquanto ouvimos a voz da “Mãe”, dizendo que ela nunca machucaria uma mosca. Esse momento representa a aniquilação do eu: Norman já não existe como sujeito independente.

A voz interna da “Mãe” assume o papel de um superego sádico, punindo Norman e reforçando sua submissão eterna. Ele se torna, definitivamente, aquilo que sempre tentou reprimir—a própria mãe, um duplo mortal de sua psique fragmentada.


Conclusão

Psicose é uma das representações mais perturbadoras da psique humana no cinema. Ele nos mostra como a repressão, o trauma e a ausência de separação materna podem levar à fragmentação do sujeito. Norman Bates não é apenas um assassino—ele é um estudo clínico da mente humana em colapso, um símbolo do que acontece quando o desejo e a identidade se tornam irreconciliáveis.

A grande pergunta que Hitchcock nos deixa é: até que ponto somos realmente donos de nossa identidade, ou será que ela é construída a partir dos fantasmas do nosso passado?

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